A chamada Escola do Porto marca o modo de fazer arquitetura em Portugal, nas últimas décadas. Távora, Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura construíram uma linguagem que influencia gerações sucessivas de arquitetos. É portanto esta produção arquitetónica que normalmente está associada internacionalmente à imagem de “arquitetura portuguesa”.
A identidade da Escola do Porto está interligada à pedagogia usada, desde meados do século XX até hoje, na Faculdade de Belas Artes e na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Este modo de pensar e aprender a fazer arquitetura vai refletir-se, depois, na prática arquitetónica dos seus antigos alunos. Um modo de projetar transversal a várias gerações de arquitetos. Constitui-se, assim, uma espécie de linguagem unitária, que caracteriza a imagem da arquitetura portuguesa contemporânea.
Protagonistas
Carlos Ramos
Nomeado diretor da Escola de Belas Artes do Porto, em 1952, Carlos Ramos inicia um novo percurso no ensino da arquitetura. Baseia-se na definição Vitruviana de arquitetura. É uma forma de ensino aberto à criatividade e interrelacionado com a prática profissional. Para isso convida um conjunto de arquitetos e artistas plásticos para fazerem parte do quadro docente da escola.
Fernando Távora
Na altura um jovem arquiteto, Fernando Távora é convidado, por Carlos Ramos, para ser professor na Escola de Belas Artes. Távora é na altura delegado português nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM). Desta experiência traz uma nova perspetiva para a arquitetura portuguesa. Contudo, a sua arquitetura, embora detenha uma forte dimensão de modernidade, vai mais longe, dando especial atenção ao sítio. Também a história e às pré-existências são premissas de projeto. É este modo de fazer arquitetura, que transmite aos seus alunos, sendo considerado, portanto, o pai da Escola do Porto.
Álvaro Siza Vieira
A revolução do 25 de abril de 1974 e a implementação do SAAL, um programa político e arquitetónico de habitação social, permite que professores e alunos da Escola do Porto contactem com a realidade próxima. A arquitetura torna-se, assim, próxima das necessidades reais das pessoas. Na altura, registava-se uma intensa produção arquitetónica, ditada pela necessidade premente de habitação. É neste contexto que os projetos dos Bairros da Bouça e de São Vítor consagram internacionalmente a arquitetura de Álvaro Siza, aluno e antigo colaborador de Távora. Emerge assim a chamada Escola do Porto.
Eduardo Souto de Moura
Aluno de Távora e de Siza, Eduardo Souto de Moura é outro dos pilares da Escola do Porto. Nos anos 90, as suas casas de cobertura plana, paredes de pedra aparelhada e amplas superfícies vidradas são uma referência para muitos de nós arquitetos.
Identidade
O desenho detém uma importância fundamental na formação dos arquitetos da Escola do Porto. É um instrumento primordial de conceção e de síntese, permitindo ordenar e consolidar ideias. Exemplo paradigmático é o traço de Álvaro Siza, tão conhecido quanto a sua arquitetura.
A arquitetura da Escola do Porto aposta numa linguagem arquitetónica simples e depurada, em jogos volumétricos, de cheios-vazios, de luz-sombra e de texturas-materiais. Muitas vezes é usado o branco puro, pois este reflete a luz e molda os volumes.
Alicerçada nos princípios do movimento moderno, a arquitetura da Escola do Porto, concilia modernidade com tradição e humanização dos espaços. Caracteriza-se, igualmente, por um estreito relacionamento com o sítio e com a materialidade dos lugares. Procura-se sentir o sítio, perceber enfiamentos de vistas e pontos de interesse, tirar partido da luz, relacionar harmoniosamente novo com preexistente. Também a cor usada nas fachadas de edifícios reabilitados procura repor a memória dos lugares.
Influência e transversalidade
O modo de fazer arquitetura da Escola do Porto é transversal a arquitetos com formação em outras universidades. Em Lisboa, arquitetos como Carrilho da Graça, Gonçalo Byrne ou Aires Mateus têm uma abordagem arquitetónica próxima do Porto. Isto evidencia que a influência desta escola estende-se para além dos seus limites geográficos. Também em Coimbra, cujo Departamento de Arquitetura da Universidade tem na sua génese professores da Escola do Porto, acaba por sofrer a sua influência.
A influência da Escola do Porto também atravessa fronteiras. Primeiro, pela crescente divulgação de projetos portugueses em publicações internacionais e mais recentemente através da internet. Depois porque muitos arquitetos portugueses ganham concursos e fazem obras de destaque além-fronteiras. A arquitetura portuguesa, e em particular a Escola do Porto, torna-se, assim, numa espécie de “marca” reconhecida internacionalmente.
A comprovar o sucesso desta escola, dois dos seus grandes pilares, Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura, são galardoados com o Prémio Pritzker. Este é o maior prémio a nível internacional na área da arquitetura.
Atualidade
Embora hoje se procurem novos caminhos, ligados a uma arquitetura mais sustentável e que resolvam os problemas da cidade atual, os pressupostos da Escola do Porto continuam válidos.
O gosto por um certo minimalismo e pela forma pura, o uso adequado da luz e a procura de harmonia entre construído e natural, são valores que se mantém assim como um legado.
Em suma, a Escola do Porto continua viva.
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