Évora é uma cidade alentejana com uma identidade visual associada ao seu núcleo histórico e monumental medieval. O Centro Histórico de Évora está classificado como Património da Humanidade, pela Unesco, desde 1986.
A história de Évora remonta ao período neolítico como o comprova o Cromeleque dos Almendres o maior recinto megalítico da Península Ibérica. Construído entre o século VI e o século III a.C. localiza-se a cerca de 13 km a poente do centro da cidade. Existem vários outros testemunhos deste período espalhados por todo o distrito, como a Anta Grande do Zambujeiro, na localidade de Valverde, ou menires isolados próximo de Monsaraz.
Mas é do período de ocupação romana que Évora, chamada então Ebora Liberalitas Julia, mantém no seu centro vestígios de grande importância e que são a sua imagem icónica. O Templo Romano, popularmente conhecido como Templo de Diana, é o ex-libris da cidade. Construído entre os séculos I e III d.C. conserva o podium em granito sobre o qual assentam colunas com capiteis em estilo coríntio e que sustentavam a arquitrave, da qual restam fragmentos no topo norte.
Da presença romana subsistem ainda troços da muralha, que inclui o arco de D. Isabel, as ruínas das termas romanas sob o edifício da Câmara Municipal e uma malha urbana ainda verificável no cadastro atual.
Évora foi alvo de invasões bárbaras e apesar de D. Afonso Henriques, 1º rei de Portugal, a ter conquistado em 1159, a definitiva reconquista foi feita por Geraldo Sem Pavor em 1166. Durante este período de ocupação verificou-se um retrocesso na cidade restando-nos hoje apenas o traçado sinuoso de alguns arruamentos do centro histórico.
Durante a Idade Média Évora readquire uma posição de destaque no reino. A cidade cresce sendo necessário construir uma nova muralha, uma vez que a do período romano já não oferecia proteção suficiente. A Porta Moinho de Vento corresponde ao ponto onde as muralhas romana e medieval se tocam.
A nível urbanístico são criadas novos largos e praças como o Rossio, o largo das Portas da Moura e a Praça do Giraldo, conhecida então como Praça Grande. Esta última, que constitui a Sala de Visitas da cidade, é requalificada na década de 80 do século XX sendo ao longo da história palco de eventos comemorativos. É ladeada por edifícios de fachadas neoclássicas com varandas de ferro forjado, monumentos como a Igreja de Santo Antão e arcadas. No seu centro foi construída em 1571 uma Fonte, obra do arquiteto Afonso Álvares e classificada como Monumento Nacional.
A nível arquitectónico destaca-se a construção da Sé de Évora, a maior catedral medieval do país, edificada no século XIII e representando o ponto de viragem entre o estilo românico e o gótico.
Nos séculos XV e XVI Évora conhece um período áureo devido à presença na cidade, por largos períodos, da família real bem como de outros nobres e pessoas ligadas ao ensino e à cultura. Datam desta época grandes obras de arquitetura como o Palácio de D. Manuel, o aqueduto Água de Prata (fotografia à esquerda) e o Convento da Graça (fotografia à direita).
Évora é elevada à categoria de arquidiocese e o primeiro arcebispo da cidade, o cardeal Infante D. Henrique, funda a Universidade de Évora. Afeta à Companhia de Jesus começa a funcionar a partir de 1559, com todos os cursos exceto Medicina e Direito Civil. Esta viria a ser extinta durante o século XVIII na sequência da expulsão dos Jesuítas do país, só voltando a funcionar a partir de 1973.
Nos séculos XVII e XVIII foram construídos alguns edifícios de raiz e empreenderam-se reformas no património existente, de entre as quais se destaca a reconstrução da cabeceira da Sé, com projeto do arquiteto João Frederico Ludovice que adota no seu desenho uma linguagem barroca.
Fora do recinto muralhado é construído no século XVII a Igreja e Convento de Nossa Senhora dos Remédios. Reabilitado em 2006 com projeto do arquiteto Vitor Figueiredo alberga o centro interpretativo Megalithica Ebora, um espaço expositivo permanente que abarca dois importantes períodos da história da formação da cidade, o período megalítico e o período romano.
Também do século XVII é edificada a Capela dos Ossos, localizada no Convento de S. Francisco, famosa por ser totalmente revestida pelo interior a ossadas humanas.
Já no século XIX Évora passa por muitas transformações urbanísticas. Na Praça do Giraldo, a cadeia e os antigos Paços do Concelho manuelinos são demolidos e em seu lugar constrói-se o edifício do Banco de Portugal. No local do Convento de S. Domingos é erguido, em 1892, o Teatro Garcia de Resende.
Contrariamente ao que sucedeu noutras cidades portuguesas, em Évora as muralhas medievais foram conservadas e já no século XX foi construído um anel viário ao redor do perímetro muralhado que ajudou na sua preservação.
Até à década de 40 do século XX, a zona urbana de Évora limita-se à cidade intramuros, preservando a traça histórica. A expansão urbanística da cidade na zona extramuros, faz-se, na sua maior parte, à margem de estudos urbanísticos.
Após o 25 de Abril de 1974, Évora aposta na recuperação de construções clandestinas e no desenvolvimento das cooperativas de habitação. Em 1977, o Álvaro Siza Vieira desenvolve o plano de Pormenor da Malagueira, na zona oeste da cidade. O Bairro da Malagueira, como é conhecido, tem sido distinguido desde o seu início com um conjunto de prémios, alguns de âmbito internacional. É composto por 1200 casas, ocupadas em parte por famílias de etnia cigana, encontrando-se degradado a nível do edificado mas principalmente a nível de espaço público. Continua também a manter uma posição marginal face à cidade.
Entre as décadas de 70 e 90 do século XX Évora regista um aumento demográfico. Consolida-se uma estrutura radioconcêntrica da cidade, tendo como centro a cidade intramuros e ao qual confluem as antigas estradas. Apesar do aumento populacional as construções na cidade extra-muros ainda se encontram dispersas e pouco densas. As maiores manchas de urbanização concentram-se a sul e a poente.
Na viragem do milénio houve um investimento na reabilitação do edificado tanto a nível público como iniciativas a nível privado.
A Universidade de Évora, reaberta em 1973, está organizada em departamentos, agrupados em escolas, que ocupam vários edifícios históricos espalhados pela cidade. Salienta-se a reabilitação da antiga Fábrica dos Leões para instalação dos Departamentos de Arquitetura, Artes Visuais, Design e Artes Cénicas. O edifício principal foi recuperado ocorrendo uma intervenção marcadamente contemporânea nos corpos laterais, que vêm trazer uma nova identidade ao espaço. O projeto é de Inês Lobo.
Outros exemplos na área da reabilitação é o M'ar de Ar Aqueduto Hotel localizado no centro histórico e o Convento do Espinheiro localizado a cerca de 2km da cidade.
O M'ar e Ar é uma adaptação do quinhentista Palácio dos Sepúlveda, inaugurado em 1997 sendo posteriormente remodelado segundo conceitos de arquitetura e design contemporâneos. Do edifício original foram cuidadosamente conservadas a capela, os tetos em abóbada e três janelas manuelinas que podemos observar na fachada principal.
O Convento do Espinheiro é um convento construído no século XV convertido em Hotel, mantendo no seu interior uma capela barroca e o claustro. Como curiosidade aponta-se a existência neste espaço de uma oliveira com mais de mil anos, certificada através de método da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, sendo um exemplo notável de longevidade.
No âmbito das novas construções destacamos a intervenção de Gonçalo Byrne, na realização de um conjunto de blocos habitacionais na zona envolvente da muralha que pretendem estabelecer uma relação harmoniosa entre a malha antiga e as necessidades de expansão da cidade, valorizando aspetos de circulação, vivência comercial e zonas pedonais.
O Centro de Monitorização da ETAR de Évora é também uma referência na arquitetura de terra com linguagem contemporânea. Projetado por João Alberto Correia, este edifício construído em terra crua e com cobertura metálica, foi distinguido com o prémio europeu Outstanding Earthen Architecture in Europe 2011.
Évora mantém hoje um centro histórico bem preservado com vivência diurna e noturna. É uma cidade que valoriza o seu legado histórico mas que se afirma igualmente como uma urbe moderna.
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