Braga: um roteiro com 34 espaços a (re)descobrir

arquitetura portuguesa

Cidade dos Arcebispos, Cidade Barroca e Cidade da Juventude são epítetos de Braga. Uma cidade que conjuga história, cultura, religião e tradição com um lado mais contemporâneo, ligado à industria e a uma animada vida noturna e estudantil.




Braga: roteiro de arquitetura

01
Sé de Braga

Data: Início da construção nos finais do século XI
Arquitetura: Catedral de base românica, com alterações sucessivas ao longo dos séculos. À planta inicial foram acrescentadas cinco capelas, claustro, galilé, cabeceira e sacristia. O conjunto cruza, assim, elementos românicos, manuelinos e barrocos.
Na antiga casa do Cabido, encontra-se o Tesouro-Museu da Sé de Braga, que reúne peças de arte sacra recolhidas ao longo de mil anos de influência da Sé de Braga na vida cristã.
Localização: Rua D. Paio Mendes

03
Câmara Municipal

Câmara Municipal

Data: 1754
Arquitetura: Traça barroca com desenho de André Soares.
Localização: Praça Municipal

05
Arco da Porta Nova

Arco da Porta Nova

Data: século XVIII
Arquitetura: Porta da muralha medieval reedificada em 1773 com desenho de André Soares. Como curiosidade refira-se que este arco nunca teve porta, uma vez que à data da sua reedificação esta já não era necessária por razões defensivas e detendo portanto o arco uma função mais simbólica.
Localização: Rua D. Diogo de Sousa

07
Palácio dos Biscainhos

Palácio - Museu dos Biscainhos

Data: 1712
Arquitetura: Casa senhorial e jardins barrocos. Foi doado ao município e transformado em museu em 1978.
Localização: Rua dos Biscainhos

09
Mercado Municipal

Mercado Municipal

Data: anos 50   Reabilitação: 2020
Arquitetura: APTO - Arquitectura
Projeto de reabilitação e ampliação do Mercado Municipal. A intervenção preconizou a preservação da traça da construção existente e a ampliação através da criação de uma cobertura sobre o espaço central e uma nova ala a norte. A nova cobertura serve como elemento unificador de todo o espaço, e é constituída por um revestimento em ripas de madeira com uma geometria ondulante.
Localização: Praça do Comércio

11
Torre do Castelo

Torre do Castelo

Data: 1378
Arquitetura: Torre de menagem que integrava o castelo medieval, demolido em 1906. Apresenta planta quadrada e altura de cerca de 30 metros.
Localização: Rua do Castelo

13
Casa dos Crivos

Casa dos Crivos

Data: século XVII
Arquitetura: Casa residencial unifamiliar e comercial seiscentista, com fachada recoberta de gelosias, por influência das fenestrações conventuais.
Localização: Rua de São Marcos

15
Theatro Circo

Theatro Circo - Sala de espetáculos

Data: 1911-15
Arquitetura: João de Moura Coutinho.
Localização: Avenida da Liberdade

17
Fonte do Ídolo

Fonte do Ídolo

Data: século I
Arquitetura: Monumento rupestre de cariz religioso, com figuras esculpidas em granito. Em 2003, é criado um espaço museológico, que visa a sua conservação e valorização, da autoria da arquiteta Paula Silva (DREMN).
Localização: Rua do Raio

19
Igreja do Hospital

Igreja do Hospital

Data: 1787
Arquitetura: Carlos Amarante. Traça barroca
Localização: Largo Carlos Amarante
21
Capela Árvore da Vida

Capela Árvore da Vida - Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo

Data da capela: 2011
Arquitetura: Cerejeira Fontes arquitectos
Construída no interior do Seminário a capela conforma-se num volume solto revestido com lâminas de madeira.
Prémio Archdaily 2011
Localização: Largo de Santiago
Visita: sextas-feiras das 17h às 18h
Fotografia: wikimedia por Joseolgon

23
Museu de Arqueologia

Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa

Data: 2007
Arquitetura: Carlos Guimarães e Luís Soares Carneiro
Localização: Rua dos Bombeiros Voluntários

25
Forum Braga

Fórum Braga

Data:2018
Arquitetura: Barbosa & Guimarães
Localização: Av. Dr. Francisco Pires Gonçalves

27
Capelas Imaculada e Cheia de Graça

Capelas Imaculada e Cheia de Graça - Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Data: 2016
Arquitetura: Cerejeira Fontes, arquitectos com o escultor norueguês Asbjörn Andresen
Projeto de requalificação da igreja da Imaculada Conceição, que se destina a celebrações em dias festivos e do seu coro-alto, que passou a chamar-se Capela Cheia de Graça. Esta segunda capela é portanto um espaço dentro do espaço da primeira, sendo apenas acessível por um andar superior do seminário.
Prémio Archdaily 2019
Localização: Rua da Universidade
Fotografia: Arquidiocese de Braga

29
Santuário do Sameiro

Santuário do Sameiro

Data: 1863
Arquitetura: Traça neoclássica.
Implanta-se num planalto, que goza de uma vista alargada sobre a envolvente, e é rodeado pelo Parque Natural do Sameiro.
Localização: Av. Nossa Sª do Sameiro

31
Estádio do Braga

Estádio

Data: 2004
Arquitetura: Eduardo Souto de Moura
Localização: N205-4 - Parque Norte

33
Galeria Mário Sequeira

Galeria Mário Sequeira

Data: 2000
Arquitetura: Carvalho Araújo
Localização: Rua da Galeria - Parada de Tibães

02
Paço Episcopal Braga

Paço Episcopal e Jardim de Santa Bárbara

Data: séculos XIV - XVI - XVIII - XX
Arquitetura: São visíveis diferentes fases de construção: um corpo gótico voltado para o Jardim de Santa Bárbara; uma praça de feição maneirista, com o piso térreo aberto em arcadas e um corpo barroco reconstruído no início do século XX.
O conjunto foi totalmente restaurado nas décadas de 30/40 do século XX.
Localização: Rua Eça de Queirós

04
Chalet das Três Esquinas

Chalet das Três Esquinas

Data: séc. XIX Reabilitação: 2013
Arquitetura: Tiago do Vale
Prémios Archdaily 2014 / A+Awards 2015.
Localização: Rua D. Frei Caetano Brandão

06
Museu da Imagem

Museu da Imagem

Data reabilitação: 1999
Arquitetura: Sérgio Borges
Reabilitação do conjunto edificado formado por uma torre medieval do século XIV e um edifício do século XIX. O museu tem como objetivo mostrar a evolução da fotografia e da cidade de Braga.
Localização: Rua D. Diogo de Sousa

09
Igreja do Convento do Pópulo

Igreja do Convento do Pópulo

Data: séculos XVI - XVIII
Arquitetura: Reedificada no final do séc. XVIII, com desenho de linhas neo-clássicas de Carlos Amarante.
Localização: Praça Conde de Agrolongo

10
GNRation

GNRation

Data reabilitação: 2013
Arquitetura: Carvalho Araújo
Projeto de reabilitação do antigo quartel da GNR. A ideia de projeto passa pela preservação das fachadas. Contudo, introduziu-se um corte diagonal na esquina da fachada principal que marca simbolicamente o romper com o passado. Os pátios foram rasgados, abrindo-se para a rua. As fachadas voltadas para os mesmos são recobertas com uma estrutura metálica que integra floreiras também metálicas.
Localização: Praça Conde de Agrolongo

12
Arcada

Arcada / Igreja da Lapa

Data: século XVIII
Arquitetura: A Arcada localiza-se frente ao Campo de Santa Ana (atual avenida central), aberto no século XVI. Em 1761 o núcleo central da Arcada foi rasgado para construção da Igreja da Lapa, com desenho de André Soares, segundo traça neo-clássica.
Localização: Praça da República

14
Igreja dos Congregados

Igreja dos Congregados

Data reabilitação: 1761
Arquitetura: Fachada rococó com desenho de André Soares.
Localização: Avenida Central

16
Complexo Comercial

Complexo Comercial

Data reabilitação: 2011
Arquitetura: Gonçalo Byrne
Reconversão do quarteirão que englobava o antigo edifício dos CTT, do qual se manteve a fachada.
Localização: Avenida da Liberdade

18
Palácio do Raio

Palácio do Raio

Data: 1754
Arquitetura: André Soares. Traça barroca.
Localização: Rua do Raio

20
Casa e Capela dos Coimbras

Casa e Capela dos Coimbras

Data: século XVI Reconstrução: 1924
Arquitetura: A Casa dos Coimbras foi reconstruída na sua atual localização com elementos arquitectónicos manuelinos do palacete do século XVI demolido pelas transformações urbanas ocorridas em 1906.
Localização: Rua D. Afonso Henriques

22
Capela de Nossa Senhora da Torre

Capela de Nossa Sª da Torre

Data: 1755
Arquitetura: André Soares.
Capela com traça rococó.
Localização: Largo São Paulo

24
Ruínas Romanas Cividade

Ruínas Romanas do Alto da Cividade

Data: século I
Arquitetura: Ruínas de termas e teatro romanos. Em 2014 efetua-se a musealização das ruínas, com projeto de Sérgio Borges.
Localização: Rua Dr. Rocha Peixoto

26
Mercado Carandá

Antigo Mercado do Carandá - Escola de Música

Data: anos 80 Requalificação: 2004
Arquitetura: Eduardo Souto de Moura
Desenhado nos anos 80 por Souto de Moura para funcionar como um mercado tradicional, o edifício foi reconvertido em espaço cultural, com projeto do mesmo arquiteto. A intervenção caracteriza-se pela demolição da pala da cobertura e pela manutenção, em ruína, dos pilares, para perpetuar a memória do antigo mercado.
Localização: Rua Dr. Costa Junior

28
Santuário do Bom Jesus

Santuário do Bom Jesus do Monte

Data: 1784-1811
Arquitetura: Carlos Amarante.
Tendo existido no mesmo local outros espaços de culto desde o séc. XIV, o atual templo e escadaria, que representa a Via Sacra, são do período barroco. Goza de uma panorâmica privilegiada sobre a cidade.
O funicular que dá acesso ao Santuário, instalado em 1882, é atualmente o mais antigo no mundo a utilizar o sistema de contrapeso de água.
Localização: Largo Santuário do Bom Jesus

30
Igreja de Sª Mª Madalena de Falperra

Igreja de Sª Mª Madalena de Falperra

Data: séc. XVIII
Arquitetura: André Soares. Traça Barroca.
Localização: Estrada de Falperra

32
Capela São Frutuoso

Capela São Frutuoso

Data: séc. VII
Arquitetura: Capela visigótica reconstruída no século X que lhe dá o atual aspeto interior.
Localização: Avenida S. Frutuoso

34
Mosteiro de Tibães

Mosteiro de Tibães

Data: finais século X / século XVIII / 2008
Arquitetura: Antigo mosteiro românico, ampliado no séc. XVII-XVIII. Em 2008 sofre obras de restauro e reabilitação do edifício e espaços exteriores sendo o projeto coordenado por João Carlos dos Santos (DRCN) e por Maria João Dias Costa (paisagismo).
Localização: R. Mosteiro - Mire de Tibães






Braga: enquadramento histórico

A história de Braga remonta à pré-história, quando toda a região era habitada pelos brácaros, uma tribo de cultura céltica. Estes viviam numa rede de castros cuja capital era a Citânia de Briteiros.

Alguns historiadores defendem que teria existido um castro na Cividade, sob as ruínas do qual se construiu a cidade. Escritos do geógrafo grego Ptolemeu, que refere que a fundação de Braga era anterior ao período romano, e a recente descoberta de um balneário pré-romano, durante as obras de remodelação da estação de comboios, reforçam esta tese.

Após lutas com os brácaros, os romanos conquistam o noroeste peninsular, fundando a cidade Bracara Augusta, que perdura entre o século III a.C. e o século IV d.C. Sob o domínio romano, Bracara Augusta torna-se a capital da Galécia, onde confluíam as principais estradas da Ibéria. A cidade possuía um plano regular e no século III é cercada por um pano de muralhas. Parte do abastecimento de água era feito por um conjunto de condutas conhecido hoje como Sete Fontes. Após o século VIII as ruínas dos seus edifícios passam a ser utilizados como pedreira e os seus terrenos usados para cultivo. Perde-se durante séculos este pedaço de história. 

A partir de 1976 enceta-se um processo de redescoberta da urbe romana, com escavações arqueológicas que permitem conhecer melhor a sua evolução e pôr a descoberto as ruínas de alguns edifícios. As ruínas das termas do Alto da Cividade são um dos edifícios públicos romanos, totalmente escavados, que se pode visitar hoje em Braga.

Braga é conquistada pelos suevos, no século V, que a tornam capital do seu reino e, mais tarde, pelos visigodos, sendo já nessa época um importante centro religioso. Deste período destaca-se a nível arquitectónico a basílica paleocristã de São Martinho de Dume e a capela de São Frutuoso, com traça suevo-visigótica.

A partir do século VIII com a invasão e conquista de Braga pelos árabes a cidade é destruída, o que dita uma forte retração do núcleo urbano.

Reconquistada pelos cristãos a cidade retoma a sua importância. Bispos e arcebispos ajudam a florescer a cultura cristã, ficando Braga conhecida como Cidade dos Arcebispos.

No século XI, o conde D. Henrique, que havia recebido a cidade como parte do Condado Portucalense (o dote do seu casamento com D. Teresa), manda construir as muralhas e erigir a Sé. Braga desenvolve-se em torno do Palácio dos Arcebispos e da Sé, afastada do núcleo primitivo romano e confinada ao perímetro amuralhado.

No reinado de D. Dinis (1279-1325) a muralha é requalificada sendo construída a torre de menagem e. à qual, mais tarde, são adicionadas nove torres.

Em 1505, o arcebispo D. Diogo de Sousa, um homem do renascimento, inicia um processo de renovação urbanística em Braga. A sua intervenção e a dos arcebispos que lhe sucedem até ao século XVIII transformam a fisionomia de Braga. Abrem-se novas portas na muralha, criam-se novos arruamentos mais largos e retilíneos e desenham-se novos espaços bem dimensionados, como o Campo das Hortas, o da Vinha e o de Santana. A cidade expande-se extra muros. A nível arquitectónico renova-se a Sé e o Paço Arquiepiscopal, funda-se o Hospital de S. Marcos e constroem-se novas igrejas, como Santa Cruz e a Misericórdia.

O gosto barroco impõe-se na arquitetura civil e religiosa durante todo o século XVIII. O traço do arquiteto André Soares é responsável, em parte, pela imagem de Braga como ex-libris do barroco.

O Santuário do Bom Jesus do Monte, desenhado pelo arquiteto Carlos Amarante em setecentos, é um emblemático "Sacromonte". Este simbolismo é reforçado no século XIX com a construção dos jardins e da escadaria, cujos dezassete lanços de escadas divergem e convergem em patamares ladeados de estátuas e fontes.

No século XIX Braga prospera, devido ao florescimento da industria, do comércio e do dinheiro trazidodo Brasil. No final do século o centro da cidade muda, abandona a área da Sé e passa para a Avenida Central. Em 1875 é inaugurada a linha de caminho de ferro e em 1882 é construído o Elevador do Bom Jesus, o primeiro funicular na Península Ibérica.

Contudo, as tentativas de modernização da cidade a par da onda de destruição causada pelas invasões francesas e pelas posteriores lutas liberais trazem um lado negativo. Dá-se um processo de descaracterização do centro histórico de Braga, com a demolição de alguns monumentos e a desfiguração da malha quinhentista.

O século XX inicia-se com a criação de várias infraestruturas. É introduzida a iluminação pública, melhoram-se os acessos rodoviários e remodelam-se os sistemas de água, saneamento e transportes.

Em 1941, Étienne de Gröer desenha o "Plano de Alargamento, Embelezamento e Extensão da Cidade de Braga", segundo os princípios de zonamento da Carta de Atenas. É traçada a circular rodoviária que limita a expansão urbana a um raio de quatro quilómetros e estabelece a transição entre a cidade e áreas rurais envolventes.

Nos finais dos anos 60 a cidade explode de forma brusca e tentacular. São criadas novas urbanizações para albergar uma população residente em franco crescimento. A leitura da cidade antiga e alguns vestígios arqueológicos são apagados.

Em 1978 é lançado o Plano Geral de Urbanização que define linhas estratégicas a nível urbanístico. É formado um stock de terrenos a serem infraestruturados e urbanizados. Definem-se regras para o desenvolvimento SO/NE, que inclui a criação de equipamentos como o mercado do Carandá.

Entre 1978 e 2009, são elaborados e colocados em prática sucessivos planos que visam a valorização e requalificação do centro histórico. O espaço público é redesenhado, privilegiando-se o uso pedonal, regula-se o trânsito e as zonas de estacionamento, introduz-se uma regulamentação de fachadas, incentiva-se a reabilitação e o reuso dos edifícios. Quem percorre o centro histórico de Braga, de dia ou de noite, encontra hoje gente e animação.

Nos últimos anos, a Universidade do Minho, concentrada no Campus de Gualter, o Estádio do Braga, o reforço dos serviços e do comércio de grande escala e a emergência de novas indústrias constituem novos pólos de atração.

Braga é hoje uma cidade populosa, com muitos jovens, dinâmica e moderna. Lemos nas ruas e edifícios vários estratos de uma história de mais de dois mil anos, mas simultaneamente vivenciamos uma cultura e modo de vida contemporâneos.



0 Comentarios