Guimarães


Enquadramento histórico da cidade de Guimarães e apresentação de um conjunto de edifícios, históricos e contemporâneos, que marcam a arquitetura da cidade.


Guimarães insere-se numa área povoada desde o período castrejo, como o comprova a Citânia de Briteiros localizada a cerca de 12 km da cidade.

Citânia de Briteiros

Mas, a sua história remonta ao século IX quando um fidalgo galego, Vímara Peres, funda um pequeno burgo a que dá o nome de Vimaranis. No século X, Mumadona Dias, trineta desse fidalgo, manda construir um mosteiro e a pequena distância deste, no monte Latito, um castelo.

Guimarães desenvolve-se assim a partir destes pólos: o núcleo do castelo,  na parte alta da vila, que constitui o pólo defensivo-militar, e o núcleo do Mosteiro, na zona baixa, que constitui o pólo religioso e cívico. A circulação entre estes dois núcleos é garantida por uma via urbana estruturante, a rua de Santa Maria, ainda hoje assim designada.

No século XII, D. Afonso Henriques funda, a partir do Mosteiro, a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, uma das mais importantes e ricas instituições religiosas do país na Baixa Idade Média, que hoje corresponde à Igreja de Nossa Senhora da Oliveira.

Pela necessidade da Colegiada dispor de um templo que escapasse à autoridade do titular de Braga, é mandada edificar, no século XIII, a capela de S. Miguel, junto do castelo, Esta pequena capela, de estilo românico e de grande simplicidade arquitetónica, é sagrada em 1239, o que exclui a hipótese do 1ª Rei de Portugal ali ter sido batizado, embora a tradição o contrarie.

Durante o século XIII a cidade expande-se e estrutura-se sendo rodeada por um pano amuralhado envolvente, com implantação próxima da atualmente existente.

A sua expansão faz-se para sul e sueste em direção às principais portas de entrada onde se conformam dois rossios, o Largo do Toural, destinado a juntar o gado, e o Largo da Feira, onde se realizava o mercado. Em torno destes começa a fixar-se uma população burguesa. Em direção ao rio instalam-se as primeiras industrias de curtumes e algumas casas do povo. São estabelecidas igualmente novas ligações viárias a outros aglomerados urbanos.

No século XV, D. Afonso, duque de Bragança, manda edificar para sua residência, um palácio, por influência da arquitetura senhorial do norte da Europa. Embora seja exemplar único na Península Ibérica, o Paço dos Duques de Bragança, foi abandonado no século XVI devido à transferência do duque de Bragança para Vila Viçosa. Esteve quase em ruína até ao século XX, ocorrendo a sua reedificação entre 1937 e 1959 e passando a ter funções museológicas.

Em meados do do século XVI começa a ser edificado o Convento de Santa Clara, onde atualmente se encontra instalada a Câmara Municipal.

Entre o século XVI e XVIII o crescimento abranda mas ainda assim destaca-se a edificação de casas nobres, de que é exemplo a Casa do Arco, na rua de Santa Maria e o edifício dos antigos Paços do Concelho, atual Museu de Arte Primitiva Moderna São ainda construídas igrejas fora e dentro de muros e consolidam-se os terreiros ou campos extramuros,  onde se instalam instituições religiosas, como as dos Franciscanos e Dominicanos.

No século XVIII, a construção da Igreja de S. Pedro no Largo do Toural torna-o numa praça barroca, axialmente hierarquizada pelo templo e ladeada por várias casas-nobres. O ponto máximo da expansão barroca verifica-se com a construção do Palácio de Vila Flor e jardim envolvente, em meados do século XVIII, localizado no limite exterior da vila.

No século XIX a vila, elevada a cidade, sofre grandes mudanças e ganha novas acessibilidades rodoviárias e ferroviárias. A muralha é destruída, sendo utilizada para a construção de diversos edifícios. Restam alguns troços como o pano que parte do castelo e que corre ao longo da atual Av. Alberto Sampaio, ou a emblemática torre junto do largo do Toural onde se inscreveu a frase “aqui nasceu Portugal” e que se tornou numa imagem icónica da cidade.

Em 1882 é criada a Sociedade Martins Sarmento que se instala num edifício projetado pelo arquiteto Marques da Silva. Aí continuam a funcionar a Biblioteca e Museu Martins Sarmento que entretanto se estende para os claustros do vizinho Convento de São Domingos, destruído no terramoto de 1755.

A nível urbanístico é rasgado o Jardim Público que hoje permanece com a sua fisionomia de passeio público oitocentista e mais para sul desenvolve-se a velha indústria dos curtumes ao longo da ribeira de Couros. A cidade continua a crescer depois da chegada do caminho-de-ferro em finais do século XIX.

Toda a estratégia de crescimento urbano desde os finais do século XIX e século XX baseia-se em planos de ordenamento alguns dos quais elaborados por conceituados arquitetos como Moreira da Silva e Arménio Losa, “Plano de Crescimento” de 1949, e Fernando Távora, “Plano Geral de Urbanização” de 1982.

Atualmente a metodologia de projeto de abordagem da cidade adotou uma política de reabilitação urbana, assente na requalificação dos espaços públicos e na reabilitação do património edificado.

A recuperação do Centro Histórico de Guimarães, iniciada em 1985 e que se prolonga até hoje, é exemplar pela primazia dada ao desenho do espaço público, pela fixação da população residente, pela preocupação em manter e reforçar as atividades não residenciais com construção de equipamentos e serviços, pela regulação da circulação automóvel e pela valorização das infraestruturas básicas. 

A nível arquitectónico é de salientar a atenção dada à manutenção das caraterísticas originais do edificado, ao rigor das intervenções e à manutenção das técnicas construtivas tradicionais.

O Complexo Multifuncional de Couros, que funciona num conjunto de edifícios do século XIX, reabilitados em 2002, e alberga a Pousada da Juventude, o Centro da Juventude, o Centro de Dia e o Jardim de Infância, é apenas um dos exemplos da aposta da cidade na requalificação urbana.

Esta estratégia é reforçada com a eleição de Guimarães como Capital Europeia da Cultura 2012 que para além de ter contribuído para a regeneração urbana, social e económica da cidade veio permitir um acesso transversal à cultura.

A nível de arquitetura contemporânea destaca-se um conjunto de equipamentos culturais que oferecem múltiplas atividades e incentivam a participação dos habitantes e visitantes.

A abertura ao público, em 2001, do pavilhão Multiusos de Guimarães permite que a cidade passe a integrar o roteiro dos grandes eventos desportivos nacionais e internacionais e também eventos culturais, sendo frequentemente palco de grandes concertos de música.

O Centro Cultural Vila Flor (CCVF), inaugurado em setembro de 2005, integra o barroco Palácio Vila Flor, os seus jardins e um novo edifício projetado de raiz para acolher atividades culturais: encontros internacionais de música, exposições, oficinas de teatro, entre outros.

Em outubro de 2011, no âmbito de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, abre o Centro para os Assuntos de Arte e Arquitectura (CAAA), situado perto do centro histórico, ocupando o edifício da antiga fábrica Confil. É um espaço criado por um conjunto de profissionais de diferentes áreas, arquitetura, música, cinema, fotografia e design, entre outras, que tem como objetivo incentivar a produção artística.

Também o antigo Mercado Municipal de Guimarães é totalmente reconvertido. Abre em junho de 2012 como um novo espaço, a Plataforma das Artes e da Criatividade, um espaço multifuncional dedicado à atividade artística. Os portões e a estrutura do mercado foram mantidos mas, no pátio interno, ergue-se um edifício assumidamente contemporâneo, de superfícies de vidro e cobre. Este projeto, de autoria de Pitágoras arquitectos foi selecionado como um dos 25 finalistas para o prémio internacional de arquitetura da revista alemã “Detail”.

Na zona sul de Guimarães, o espaço da antiga fábrica de lençóis ASA, um edifício de arquitectura industrial portuguesa dos anos 60, é reconvertido, em março de 2012, em condomínio empresarial. Um lugar de troca de experiências e de fomento à criatividade.

Guimarães, Cidade Berço, assume-se hoje como uma urbe contemporânea que mantém vivos os valores histórico-culturais que remontam ao espírito do fundador da nacionalidade, D. Afonso Henriques, “o Conquistador”.

2012 SETEMBRO, 20 | 2015 JANEIRO, 29 (atualização)
REGISTO FOTOGRÁFICO: 2012 AGOSTO

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