Definição, origens e objetivos do urbanismo. Apresentação das intervenções em Paris e Barcelona como modelos largamente seguidos no início do século XX.
Definição
O urbanismo é uma operação cujo objetivo é a transformação do espaço visando uma melhoria estética e da qualidade de vida, transmitindo sensações de segurança e conforto. Deste modo, define as regras de interligação entre os elementos construídos e as várias partes da cidade, ou seja, a forma urbana.
Para além de um instrumento de projeto, o urbanismo é uma ação política, económica e social, prolongada no tempo. Atualmente, os instrumentos de gestão urbanística pressupõem uma rentabilização do espaço e a geração de lucros.
Em arquitetura, o estudo da urbanística recai sobre a análise da forma urbana. Contudo, para se poder analisar uma cidade é preciso o contributo de outras disciplinas. São elas: a história, a sociologia, a geografia e a ecologia, entre outras. O urbanismo é, assim, uma área multidisciplinar.
Devido a esta interdisciplinaridade e à dependência do poder político e económico, a diferentes períodos históricos correspondem diferentes formas de fazer cidade.
Assim, nas cidades atuais portuguesas, com largos séculos de história, encontramos diferentes malhas urbanas, correspondentes a estratos históricos diferenciados. [História das Cidades Portuguesas]
O urbanismo como disciplina autónoma
O urbanismo enquanto disciplina surge no final do século XIX, num período pós revolução industrial. Nesta época verifica-se um grande êxodo rural, com a população a fixar-se nos meios urbanos. Buscam oportunidades de trabalho e uma melhor qualidade de vida.
Devido ao aumento populacional nas cidades, as condições de vida, especialmente a das classes operárias, deterioram-se. Existe, deste modo, uma franja de população a viver em casas insalubres e sem condições de higiene. Em consequência a taxa de mortalidade torna-se mais elevada.
Deste modo, o urbanismo surge como um meio de resolver os problemas que afetam as cidades. Procura-se assim qualificar os espaços, criando infraestruturas e promovendo a melhoria das condições de vida.
Os finais do século XIX e início do século XX caracterizam-se por uma intensa actividade urbanística. A nível europeu, destacam-se duas grandes operações urbanísticas: a intervenção de Haussmann em Paris e a de Cerdá em Barcelona. Estas tornam-se então modelos de intervenção copiados noutras cidades europeias, como Lisboa. Têm em comum a criação de vias de comunicação como elementos de organização do espaço. Mas enquanto que em Paris se reordena a cidade existente, em Barcelona elabora-se um plano de expansão da nova cidade.
Plano de Haussmann para Paris
O plano de Haussmann para Paris incide na cidade existente e tem três objetivos principais:
- uma melhoria do sistema de circulação;
- a resolução de problemas sanitários;
- unificação dos principais pontos da cidade através de um sistema de eixos perspéticos - as novas avenidas ou boulevards.
Haussmann aproveita todos os edifícios emblemáticos e cria novos, como a Ópera de Paris, para remate dos eixos.
Plano de Cerdá para Barcelona
Cerdá assume um papel pioneiro como urbanista ao traçar um plano que resolve simultaneamente problemas espaciais, sócio-económicos e administrativos.
O plano de reforma e extensão de Barcelona, o Ensanche é de 1859. Apresenta um desenho em grelha ortogonal constituída por módulos de 113m de lado com chanfros de 20m, delimitados por vias de largura variável entre 20 e 50m. A área edificada é 50% complementada com espaços verdes. A malha ortogonal é cortada por um sistema de vias diagonais que interligam a cidade-velha com o novo traçado, unindo os principais pontos da cidade.
Cerdá completa o Plano para Barcelona com a apresentação, em 1867, da Teoría General de la Urbanización e aplicación de sus principios y doctrinas en la Reforma y Ensanche de Barcelona.
Imagem: wikipedia
Modernismo
Em 1933 realiza-se o CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, em Atenas. Deste resulta a publicação de um documento, em 1943, onde se estabelecem os princípios do urbanismo moderno - a Carta de Atenas.
Estas ideia são, deste modo, um modelo à produção urbanística mundial desde o período pós-guerra até à década de 70.
Este novo modelo de cidade baseia-se em princípios funcionalistas, sendo Le Corbusier o seu grande mentor. As funções da cidade são: habitação, circulação, trabalho e divertimento.
Em termos de desenho urbano, há um rompimento com as formas urbanas tradicionais, como a organização em quarteirão da cidade histórica. Defendem, assim, a criação de edifícios em altura e isolados (torres) que se dispõem no terreno em função de uma boa orientação solar, de boas condições de arejamento e da facilidade de acessos. O espaço entre edifícios seria utilizado como zonas verdes ou parques de uso público. As vias de circulação são hierarquizadas, pretendendo-se, deste modo, estabelecer uma separação entre veículos e pedestres.
Plan Voisin
No Plan Voisin de Le Corbusier para o centro de Paris, de 1925, pode ver-se aplicados alguns dos princípios da cidade moderna. Propunha assim reestruturar uma área de 40 hectares na margem direita do Sena. Deixaria somente os edifícios mais importantes e construiria um conjunto de torres cruciformes, uma autoestrada e amplas áreas verdes. A ter sido concretizado, ter-se-ia perdido uma grande parte do tecido histórico e a fisionomia de Paris teria sido radicalmente transformada.
Contemporaneidade
O urbanismo contemporâneo analisa e estuda estas diferentes formas de fazer cidade, da urbe histórica à cidade moderna. Procura integrá-las numa estratégia de planeamento que valorize o que elas têm de melhor. Procura-se também requalificar as áreas que entretanto se degradaram por ação do tempo, do uso ou pela desarticulação com novas exigências funcionais. Assim, a reabilitação urbana tem um papel preponderante como estratégia de atuação na urbe atual.
Os planos de ordenamento existentes, a nível nacional e municipal, procuram definir regras de atuação, que cruzam "desenho" com preocupações sócio-económicas e ambientais. São assim um instrumento de interligação e unidade para as diferentes intervenções empreendidas pelos municípios e por particulares.
Em síntese, atualmente procura-se criar espaços esteticamente apelativos, capazes de constituir-se como polos dinamizadores e de atração a atividades economicamente lucrativas e promotores de uma convivência social equilibrada.
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